quinta-feira, 1 de novembro de 2007

TOQUE A CAMPAINHA

Eu era bem pequeno. Devia ter uns 10 anos de idade. Como sempre moprei em prédio, as brincadeiras mais comum eram jogar futebol na quadrinha de cimento que tinha no fundo do condomínio ou então, andar de bicicleta no play. Além dessas diversões, havia outras, menos ortodoxas, que também agradavam muito a molecada, como sair tocando a campainha de todos apartamentos e, em seguida, sair varado pela escada pra não ser pego. Me lembro que rolava até uma competição pra ver quem "perturbava" mais apartamentos e o vencedor ganhava o total em dinheiro de uma vaquinha que a gente fazia entre os participantes. Ah, um detalhe: meninas não podiam participar. Elas eram "outra categoria".

Certo dia, um amigo meu, que estava liderando a competição com larga vantagem para o segundo colocado (que era exatamente o redator aqui), deu o azar de tocar numa casa onde o proprietário estava saindo. Ele ficou cara-a-cara com o garoto e deu-lhe um belo esporro. Assustado com o insucesso, mas tendo garantido a vitória na competição, meu amigo, foi buscar sua grana. Foi aí que um dos malucos que tinha lá, o Luciano, traiçoeiro e oportunista, mandou o seguinte: "Cara, você foi pego. Então, não tem direito ao ratatá". Proposta calhorda, mas a maioria dos "competidores" foi na dele e brecou a entrega do dinheiro. Indignado, meu amigo reivindicou seu direito, como combinado antes da competição. "Benevolente", Luciano lançou então um desafio para o meu amigo: ele deveria tocar novamente no apartamento onde não tinha sido bem-sucedido para levar o dinheiro. Não preciso dizer que meu amigo se negou a fazê-lo, já que estava "com-o-cu-apertadinho" depois do flagra. Assim, Luciano, arbitrariamente guardou a grana "pra próxima competição".

Contei essa história porque ela me parece familiar hoje. O São Paulo, time que faz parte do Clube dos 13, grita que é o único pentacampeão e se nega a ceder a taça ao Flamengo. No entanto, ele foi um dos clubes que, em 1987, concordou em "tocar a campainha" e organizar uma Copa sem a ajuda da CBF. Nasceu assim a Copa União. Ai, o Flamengo, que tinha uma verdadeira seleção - Jorginho, Aldair, Zico, Leonardo, Bebeto, Zinho, Renato Gaúcho - foi lá e ganhou, magistralmente, do Internacional, ficando com o Tetra. Aqueles mesmo competidores que haviam assinado o contrato e cagado pra CBF, resolveram voltar atrás quando o "proprietário", Ricardo Teixeira, deu-lhes um belo esporro, e solicitaram que o Flamengo voltasse a campo contra o Sport, campeão do módulo organizado pela CBF, pra uma final. O Flamengo se negou, afinal, os jogadores já estavam de férias, e a CBF retirou o nosso título.

Agora a polêmica está tomando proporções maiores, envolvendo ética, solidariedade e, até, podendo parar nos tribunais. Ontem a tarde, a diretoria rubro-negra solicitou a diretoria do tricolor paulista que abra-mão de receber o troféu ou, mesmo, que receba e entregue-o na Gávea depois. Na carta enviada, o Flamengo afirma que não decidiu o título de 1987 contra o Sport por determinação do Clube dos 13, presidido, na época, pelo ex-presidente do time paulista, Carlos Miguel Aidar. Sendo assim, o São Paulo estava de acordo e, portanto, não poderia trair aquilo que havia assinado.

Pelo jeito, o clube do Morumbi vai dar uma de Luciano e ficar com a taça pra si, não cumprindo o que foi acordado anteriormente. Se você também acha isso um absurdo, entre na página do São Paulo e/ou da CBF e envie uma mensagem pedindo que a taça vá para a Gávea.

Vale dizer: não xingue, não ofenda, não se rebaixe. Afinal, nós somos pentacampeões.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gil, no meu blog pus um link para a opinião do Roberto Assaf sobre essa apelação paulista.