segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O ANO DO QUASE



O meu espírito hoje aqui está idêntico ao da nossa torcida após o resultado de ontem: desânimo total.

Enquanto os dirigentes mostraram-se aliviados em não ver um torcedor sequer no aeroporto para xingar e protestar contra o resultado, eu afirmo que este é o pior sintoma que poderíamos demonstrar pelo nosso clube. Significa que não esperávamos mais nada desta equipe, nem mesmo a classificação para a Libertadores. Significa que a paixão foi superada pela razão e pela descrença, e os maus resultados e a falta de empenho ficaram tão nítidas para os olhos antes passionais, que abafaram o sentimento que nos motiva a lotar os estádios e gritar o nome de jogadores que nem sempre merecem ser ovacionados. Significa o fim da alegria, o fim da vontade de torcer. Significa que a paixão acabou e entramos na rotina.

Mas eles, os que não amam o Flamengo, ficaram tranquilos, calmos e satisfeitos por não serem criticados. Incautos, imbecis, irresponsáveis. Mal sabem eles que toda esta crítica, este questionamento, todas as faixas cobrando um título nacional, trata-se única e exclusivamente de uma demonstração de amor, de paixão, e não de mera pressão.

Mas o amor acabou e deu lugar à rotina. A rotina do desmanche da equipe. A rotina do pensamento pequeno, que já está de volta aos discursos, que nos levam a crer que ganhar o campeonato carioca poderá aplacar toda a decepção da não classificação para a Libertadores. O meu desânimo aqui é o retrato do desânimo do time ontem em campo. Ninguém queria nada com nada. Ninguém ali tinha o sangue rubro-negro correndo nas veias. E agora vai começar o show de acusações, afinal, os covardes buscam culpados ao invés de assumirem a sua fração de culpa e buscarem uma solução.

Kleber Leite já abriu a roda de ataques. Colocou a parcela de culpa dele na conta do Joel. O Joel saiu do Flamengo por uma proposta financeira muito superior e pelo sonho de disputar uma Copa do Mundo. Uma troca válida e genuína. Dou toda a razão a ele. Não vejo aonde o cara teve culpa no nosso fracasso. Culpada foi a diretoria que o manteve na direção da equipe, num clima de tristeza e despedida, ao invés de colocar o novo técnico pra trabalhar e dar a motivação e a seriedade necessárias numa competição como a Libertadores. Daqui a pouco será o Caio Jr, que já dá pintas de que vai atacar a diretoria, dizendo que não teve liberdade pra trabalhar, que demoraram para contratar novos jogadores e que as reposições foram mal-feitas. A questão é que ele mesmo indicou os jogadores que, posteriormente, nem entraram em campo. Elsinho, Josiel e cia, nem mesmo ficaram no banco. Cadê a explicação pra isso, então? Depois virão os jogadores, que aos poucos serão negociados para a Europa, criticando a estrutura, a organização, a diretoria, o Caio Jr e etc. E assim, nunca buscamos uma verdadeira solução para o problema.

Não dá mais para sair pela tangente. Temos a maior torcida do Brasil e a maior dentre os países mais tradicionais no mundo do futebol. Com isso, temos até uma certa obrigação de construir uma história sólida como clube, coisa que nem pensamos em fazer. Transformar a nossa paixão em dinheiro é o papel de uma diretoria séria. Mas os caras agem como torcedores, inconsequentes e passionais, contratam jogadores sem dinheiro, fazem planos contando com verbas que ainda nem entraram no clube, buscam patrocínios para pagar salários, ao invés de buscarem objetivos mais prósperos. E isso, não pode acontecer.

Precisamos de um CT. Precisamos de um diretor que entenda de futebol e de organização, para montar um plano de longo prazo pro nosso futebol. Precisamos de seriedade. Precisamos de um esforço de marketing para trabalhar a marca Flamengo de uma maneira consistente e lucrativa. Precisamos de paciência, para contratar os jogadores certos e não sair vendendo pratas-da-casa a preço de banana, para pagar salários de jogadores que não incorporam a mística e a raça do Manto Sagrado. Do contrário, acontecerá aqui no Brasil o que rola lá na França, com o Lyon. O tricolor paulista vai ser várias vezes seguidas campeão, sem que nenhum outro clube tenha condição de disputar o título. Tudo porque os caras montaram uma estrutura, pensando no futuro. Um futuro que já chegou pra eles. Um futuro no qual devemos pensar também.

Gil

Um comentário:

Sally disse...

Concordo com cada linha.

O primeiro passo é valorizar o que já se tem. Os torcedores deveriam se mobilizar para pressionar esse bando de mercenários a não vender bons jogadores.

Se pensarem em vender o Bruno, juro que até manifestação eu organizo!