terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ATÉ ONDE UM CORAÇÃO PODE AGÜENTAR?



Eu estava na festa de fim de ano da minha empresa, lá em Búzios. O lugar era lindo, uma pousada gostosa, debruçada na praia de Geribá. A galera lá do trabalho é ótima, pessoas engraçadas, animadas e incríveis, que apareceram na minha vida há pouco tempo, mas que me receberam de braços abertos e já trouxeram muitas boas surpresas. Mas nada nem ninguém poderia me tirar do transe que eu vivia naquele dia. Eu não conseguia pensar em outra coisa, senão naquele jogo do dia seguinte.

Confesso que diante da minha angústia, cheguei a catar um computador lá na pousada. Porque quando estou aqui no URUBUZADA escrevendo para vocês, consigo abrir meu coração e me sentir mais calmo, mais feliz, mais relaxado. Infelizmente, apesar do meu empenho, não rolou nem um laptopzinho que fosse e acabei tendo que segurar a onda, me isolando no deck da pousada, olhando pro céu estrelado e rezando pro meu São Judas Tadeu.

E a reza não era só pelo Flamengo. A semana que passou foi bem difícil pra mim. Na terça-feira passada, minha esposa tinha ido ao médico e o cara encontrou um carocinho bem pequenininho em seu seio direito. Como o histórico da família não é nada bom, resolvemos correr logo atrás do exame, que ficaria para a próxima segunda (ou seja, hoje), um dia após a final.

Pra piorar o estresse, só consegui um único ingresso (gentilmente oferecido pelo pessoal da ALE, patrocinadora do Mengão) e ela não pode me acompanhar ao estádio, como de costume, sendo obrigada a assistir tudo de casa. Apesar de toda esta tensão que estavamos vivendo, segurei a onda (minha e dela), rezei tudo o que eu pude e toquei a vida na certeza de que as coisas dariam certo.

No domingo, acordei bem cedo, tomei café na pousada e peguei estrada rumo ao Rio para tentar chegar ao Maraca até 13h. Ainda em Arraial do Cabo, quando já tinha passado por vários carros enfeitados com a bandeira rubro-negra, fato que me deixou ainda mais pilhado, passei por mais uma surpresa desagradável: uma pedra caiu de uma caminhonete e rachou meu pára-brisa. Parei por alguns minutos na estrada para olhar o estrago, mas resolvi seguir adiante para não perder muito tempo.

 Cheguei ao Rio por volta de meio-dia. Estacionei o carro numa rua relativamente afastada do estádio, pra evitar a muvuca na saída, e fui caminhando lentamente até o meu destino, um restaurante onde encontraria alguns amigos e a galera da ALE. De lá partimos sem muita demora pro Mário Filho, que a essa hora, já estava totalmente pintado de vermelho e preto.

Uma vez lá dentro, comecei a filmar cada situação pela qual eu estava passando: a subida da rampa, a caminhada pelos corredores, a entrada no túnel, etc. Avistando o palco verde do espetáculo, sutilmente me benzi, olhei para os céus e pedi que tudo desse certo naquele dia para o Mengão e no dia de hoje para a minha família. Eu estava realmente tenso.

Sentei-me sem dificuldades, mas pude notar que a cada hora que se passava a arquibancada ia enchendo em progressão geométrica. Sentados bem na minha frente, quando a arquibancada já estava lotada, um casal comentava que a galera sem ingresso - um mar de gente - pulava os muros, passava por debaixo e até mesmo tinha sua entrada liberada nas catracas.

A informação dada pelos namorados logo foi confirmada, quando pude notar que não só as cadeiras, mas os túneis e corredores preencheram-se com camisas rubro-negras. Nada conseguia segurar o desejo da Nação naquele momento.

Confesso que receei pela repetição dos fatos ocorridos em 1992, quando era um moleque de apenas 14 anos e presenciei meu colega Frederico caindo da arquibancada e tornando-se uma das vítimas fatais do desabamento acontecido na final contra o Botafogo. Mais uma pra conta da tensão e da importância que aquela final tinha para mim.



O time entrou em campo, todos os espaços já estavam ocupados, mas ainda tinha gente se espremendo e entrando pra assistir na arquibancada, desafiando não só as leis dos homens, como as leis da física. O público e renda divulgados foram puramente oficiosos. A realidade nua e crua ali no Maracanã era de cerca de 100 mil pessoas.



Já era impossível permanecer sentado, afinal, outros rubro-negros de várias partes do Brasil e do Mundo, se aglomeravam em plena passagem para ver o Mengão na luta pelo hexa.

Bem na minha frente estacionaram dois irmãos, vindos da Paraíba, que acabarem se entrosando e me contando que tinham vendido alguns bens para poderem realizar o sonho de estarem no Maracanã, no meio da torcida, para assistirem o Flamengo. Eles traziam uma mistura de sonhos e medos, afinal, abriram mão de outras coisas importantes em suas vidas; conquistas pessoais, para se dedicarem única e exclusivamente à epopéia do hexa.



Quando o elenco apontou na saída do túnel e a chuva de papel picado começou, ambos não conseguiram segurar a emoção e choraram copiosamente, como crianças. Os dois se abraçavam, balançavam as cabeças como se estivessem sonham e diziam: "Meu Deus, como isso tudo é lindo. Como eu sonhei com tudo isso aqui. Que coisa mais linda". Uma emoção genuína. Acima de tudo, acima de todos. "Uma alegria que só o Flamengo pode dar a uma pessoa", disseram.

Os dois pagaram R$ 700,00 por um par de entradas; preço até razoável diante das hiperinflacionadas ofertas que pude ouvir por lá. E era o que lhes tinha sobrado de dinheiro mesmo, além, é claro, do valor das passagens de volta pra sua terra.

E foi nesse momento, diante desse relato, que realmente constatei que havia alguém ali que merecia mais o título do que o Bruno, o Adriano, o Pet, o Angelim ou mesmo o Andrade. Pessoas que dedicam parte de suas vidas em prol de um sonho, que veneram um pavilhão acima de qualquer razão. Quem merecia esse título mesmo éramos nós, a Nação Rubro-Negra.

Mas não foi fácil.

A partida rolou com toda a dramaticidade típica de uma final épica: seus altos e baixos, sua incerteza, sua tensão e um futebol truncado e repleto de erros decisivos por parte dos dois times. E, a cada instante que passava, ainda éramos atordoados por assustadores anúncios das goleadas aplicadas por nossos adversários diretos; que fizeram muita gente roer as unhas, praguejar e até desacreditar, ainda que por alguns segundos, na conquista.

Mas o Flamengo, carregado nos braços por essa torcida fenomenal, não poderia decepcionar e deixar de realizar mais de 35 milhões de sonhos, que foram sonhados juntos, desde o último título, há 17 anos atrás. E com o apito final, muita gente naquele estádio e no Brasil, como aqueles irmãos, puderam esquecer dos problemas que nos acometem a cada dia e gritarem: "é campeão!"



E você? Até onde o seu coração pode agüentar?

VAMO QUE VAMO, MENGÃO!

Gil

PS: Minha esposa está bem. O exame não detectou nada, graças ao meu São Judas Tadeu. Amém.

7 comentários:

Alexandre Gatuso disse...

NÃO DEU PARA AGENTE SE ENCONTRAR MAIS O JOGO FOI FODA!!!!! CHEGUEI AQUI EM DALLAS AINDA AGORA E ESTÁ MUITO DIFÍCIL ESQUECER O QUE EU VI AI NO MARACA!!!!!!!!!!!!! NÓS SOMOS HEXACAMPEÃO E ISSO QUE IMPORTA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! AINDA BEM QUE A SUA MULHER TÁ BEM DEUS SABE O QUE FAZ MEU FILHO E VOCE MERECE TODAS AS BENÇÂOS!!!!!!!!!!!!!!!

Paulo disse...

Parabéns pelo post... você fez um que eu esperava ver.... o Arthur não fez um digno ainda. Mas vc já matou minha vontade! Daqui de floripa quase morri na frente da tv... e comemorei com centenas de rubro negros até as primeiras horas de segunda na principal avenida dessa terra. Que saudade da minha terra, o rio é foda demais.
Um abraço e continue com o blog, nunca desista!

SRN

SOMOS HEXAS!

Paulo de Floripa

Cíntia Costa disse...

Chorei que nem criança também naquele estádio ontem... o dia mais feliz da minha vida, sem dúvida...

Que bom q sua esposa tá bem... eu ia perguntar mas no finalzinho tu postou a resposta...

SRN! * * * * * *

Ana disse...

Aos poucos a ficha vai caindo, e cada vez q eu percebo que o fla 'e hexa, me vejo chorando que nem um bebe. Tudo, absolutamente tudo pelo Flamengo.
Gra'cas a deus sua esposa est'a bem!

Suelen disse...

As lágrimas fizeram parte do meu domingo. No gol do Grêmio não conseguia pensar em mais nada, todas as frases que os secadores de plantão falaram durante a semana, parecia se concretizar e não paravam de passar pela minha cabeça, até vir o gol de empate... meu coração pareceu por um segundo parar e novamente o choro tomou conta de mim. No apito final, chorei feito uma criança, de soluçar. Foi o choro mais emocionado e verdadeiro de minha vida. Nada apaga o que vivi e senti neste domingo. SOMOS HEXAAAAAAAA!

Ps: Que bom saber que estás tudo bem com sua mulher.

Breno Amaro disse...

Boa, garoto!! Consegui arrepiar lendo o texto. Se o time do Chororô fala que tem coisas que só acontecem com o time deles, podemos dizer que tem coisas que só o Flamengo faz acontecer!

Orgulho máximo de ser rubro-negro!

E que venha a Libertadores!

Abração, #HEXA

Anninha disse...

Adorei seu texto! É incrível como nós, rubro-negros, sentimos a mesma coisa, o mesmo tipo de emoção, a mesma paixão pelo Flamengo. Eu tive que assistir de casa, pois além de não ter conseguido os ingressos mesmo, meu filho ficou doente nesse fds (mas domingo até já havia melhorado)e sinceramente, eu grávida naquele empurra empurra seria perigoso.
Apesar de fazermos um primeiro tempo ruim e até levarmos um gol, eu tinha certeza que iríamos virar. No final das contas, foi como meu sonho: 1 x 1 e o Mengão fez um gol salvador no final! Emoção demais.
SRN