DEIXEI O AMOR DE LADO

Andei lendo muitos blogs por aí, a maioria deles mete o sarrafo no time do Flamengo, que ontem foi espancado pelo Avaí, por 3X0, lá em Santa Catarina. Mas o lance é que a gente estava mal acostumado com os milagres dos últimos anos, nos quais conseguimos, a base de muita paciência e uma boa dose de ajuda divina, chegar entre os 8 primeiros da competição. Tudo começou lá em 2006, quando vencemos a Copa do Brasil, ante o Vasco, com um time que era ruim, mas tinha muita vontade.

Após esse triunfo, e a consequente classificação para a Libertadores, nós acabamos nos acostumando com títulos cariocas consecutivos (o porquê disso está ai, na classificação do Brasileirão 2009) e com um rendimento bem acima do que vinhamos vendo no início do século, quando o Flamengo da era pré-pontos corridos, beirava sempre a zona do descêncio. Pois bem. O Ney Franco entrou após o Waldemar Lemos, aproveitou a base do treineiro anterior, deu uma organizada melhor na marcação. Mas o Flamengo chegava nos momentos decisivos e demonstrava que era um time azarado e desestabilizado (pra não citar o salto alto) e acabou deixando a mais importante competição sulamericana lá no Uruguai, diante de um fraco Defensor. Segue-se a história com o mineirinho come-quieto dando lugar à Joel Santana, que com seu jeitão de paizão, motivou aquele time e conseguiu a façanha de botar uma galera meio acomodada pra jogar um futebol e sair da lanterna em 2007, para a terceira posição, que nos classificaria novamente pra Libertadores.

Tudo ia muito bem, até que metemos uma goleada no América do México, um dos principais times da competição e o Joel foi indicado pelo Parreira pra dirigir a seleção da Africa do Sul, que o tricolor deixava por problemas familiares. Seguimos para o jogo de volta, no Maracanã, com o espírito de homenagear o Joel com uma linda vitória em sua despedida. Vocês (e eu) lembram muito bem como isso terminou.

Poderia ter servido de aprendizado, mas não rolou. Caio Jr. foi o surpreendente contratado, por conta de seu profissionalismo e seriedade, e tocou o time cheio de críticas e dúvidas. O resultado foi que ele, mais uma vez com ajuda dos santos, conseguiu reunir os cacos, montar um novo time de futebol e, levar ao Flamengo a uma classificação excelente no Brasileirão. Mas, como as farsas não se mantém por muito tempo, as panelas do Fla e a intervenção da diretoria/empresários mais uma vez destrui quaisquer chances que tínhamos de nos tornarmos um clube sério de verdade.

Voltemos agora os olhos para 2009. O ano começou com Cuca, um técnico que não me agradava por seu espírito derrotista. Estrategicamente falando, o cara não é nem tão ruim e tampouco era caro, como os outros. Falava-se até em Parreira, mas a solução foi ele mesmo. O resultado, mais uma vez, foi um novo título Carioca e um sopro de esperança.

Acontece que os desmandos no Flamengo não pararam. E, do jeito que está, não vão parar. Falei em meu post anterior que o problema é o foco. Hoje o foco da diretoria não é (acho que nunca foi) cuidar do clube. Cada um está agora numa disputa pessoal para ver quem comandará o Flamengo do seu jeito, como se estivesse decidindo se a filha vai ou não vai pra boate de noite com os amigos (repito a metáfora). E não é desse jeito que as coisas vão funcionar.

Pudemos notar ao longo destes anos, a quantidade de times do interior, com muito menos torcida e tradição, que se deram bem jogando os campeonatos de pontos corridos. O que só corrobora para a tese de que, o mínimo de organização é fundamental para ser campeão brasileiro e ter um time representativo e forte no cenário mundial.

Fala-se tanto que os times de hoje são equivalentes, que não há mais ninguém diferenciado, que as disparidades no futebol acabaram. Mas eu tenho certeza absoluta de que, se a gente se organizasse o MÍNIMO que fosse, seríamos uma das maiores potências do mundo do futebol. Porque, hoje em dia, quem carrega esse time nas costas, é a torcida. Não fosse pela nossa cobrança, associada a vontade (mesmo que bem pouca) de alguns jogadores, não teríamos feito o que vimos fazendo nos últimos anos. De jeito algum.

Sabem porquê o São Paulo tem grandes chances de se transformar no Lyon do Brasil? Porque tem organização e uma torcida de volume razoável. Os caras cobram profissionalismo lá dentro. Quem entra em campo, ou ama o São Paulo ou sabe que lá é um puta emprego e não quer perder. O que acontece é que os caras que amam o clube, como o Rogério Ceni e as comissões técnicas de todas as divisões, acabam emergindo os demais nesse clima, nesse astral de campeão, nessa vontade.

No Flamengo, historicamente, vivemos um clima de paternalismo. Ficamos furiosos quando o Vampeta mandou a célebre frase "eles fingem que pagam e eu finjo que treino", mas essa é a mais pura realidade. A diretoria não consegue cumprir com suas obrigações e acaba abrindo concessões que não são saudáveis num clube, num grupo ou em qualquer comunidade, por menor que seja. É como se um pai deixasse o filho fazer o que quer dentro de casa por que ele trabalha fora o dia inteiro ou faz outra coisa que julga que não deveria. Perde-se a moral, sacou? E esse clima negativo também é difundido dentro da Gávea, ano após ano, sem parar, para cada novo membro da comunidade Flamengo. É como o clima do São Paulo, só que ao contrário.

Precisamos mudar radicalmente a nossa postura, a nossa realidade, a nossa verdade e a nossa cabeça. Achar que os jogadores são os principais culpados está errado. Eles não são. Por mais que façam corpo mole. É óbvio que é muito doloroso ver que um cara perde a bola e não dá o sangue pela camisa que veste, porque você, que está correndo atrás do seu dinheiro, pra sustentar a sua família, ganhando um salário (em tese) MUITO inferior ao daqueles caras, dedica boa parte da sua semana indo ao estádio e "dando o seu suor e sangue" por aquele clube.

Mas, ai fica uma pergunta: o que este clube tem dado em troca para você? Para mim, só tem dado desgosto e infelicidade.

Precisamos mudar.

VAMO QUE VAMO, MENGÃO!

Gil

PS: A minha tese inclusive é confirmada pela maioria dos times que foram rebaixados, afinal, quando se vêem num caos total, com o descêncio, acabam tendo que se organizar um pouco e acabam formando times mais equilibrados e melhoram a gestão. Acho que as únicas exceções à regra foram Fluminense e Botafogo...