quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

UMA ODE AOS MALANDROS, MARRENTOS, DEBOCHADOS E PROVOCADORES



Amigos do URUBUZADA,

Confesso para vocês um sentimento meio antagônico que tem me atingido ultimamente. Nesse momento de eleições e também de um título iminente, duas grandes vontades parecem colidir o tempo inteiro dentro da minha cabeça.

A primeira delas, vinda do coração, é de que o futebol volte a ser como antigamente, com jogadores declarando amor verdadeiro ao clube, com a rivalidade saudável, com as provocações antes dos jogos, com as músicas emocionantes cantadas pela torcida e com uma maior proximidade dos artistas do espetáculo com a sua platéia.

Já a outra vontade, essa mais racional, diz respeito ao profissionalismo dentro do clube, na gestão do futebol e na atuação de todo o universo que promove o esporte (jogadores, treinadores, dirigente, jornalistas, governos, administradores de estádios e etc).

E é exatamente por isso que resolvi botar pra fora tudo o que sinto aqui, junto com vocês, para fazermos uma análise e encontrarmos um meio-termo.



Ontem, em plena madrugada, o Léo Moura foi até o Twitter, após a derrota do Flu na Sulamericana, e fez um post dando uma zoada na derrota tricolor. O jogador apenas deu uma risada e comentou que o LDU ganhou "dos caras" novamente, dentro do Maracanã.

Essa atitude irônica, que seria algo comum nos tempos do futebol romântico, perdeu todo o seu espaço nos dias de hoje, em que a cobrança por "profissionalismo" e "seriedade" é maior, e desencadeou uma polêmica que dura até agora a noite.

Não sou contrário a gozação feita pelo camisa 2. Ao contrário, acho até maneira. A questão é que isso tornou-se um prato cheio para alguns jornalistas fazerem tempestade em copo d'água às vésperas de uma decisão importantíssima para o Flamengo. E foi isso que eu argumentei com o lateral através da rede de relacionamentos.

Assim, ponderei: "o que nós devemos questionar? A atitude do Léo Moura ou a forma como o futebol é tratado hoje em dia?". Acabei resolvendo partir para a segunda opção.

No fundo, no fundo, o comentário do Léo não foi nada demais. Ele, como jogador identificado com a torcida, quis dar uma debochada e marcar pontos com a torcida rubro-negra. Simples e unicamente isso. Gaúcho, Renato Gaúcho, Túlio, Dadá e milhares de outros ao longo da história já fizeram coisas parecidas, sem que a interpretação dos fatos ou a notícia transformasse a ingênua galhofa num grande desrespeito à honra do adversário ou falta de coleguismo.

Infelizmente, um jornalista que transforma a pilha boba numa ofensa aos torcedores e jogadores de outra instituição, não tem a dimensão do quanto esse sensacionalismo babaca afetou, afeta e afetará o espetáculo do futebol.

Não é incomum encontrar nos dias de hoje jornalistas que, lá atrás, defendiam essa postura polida-babaca, reclamando que o futebol perdeu seu charme, que está sem graça. É só ligar a TV nos Arenas, Bem Amigos e Redações da vida para vê-los afirmando isso.

Tenho a convicção de que foi a introdução dessa postura que levou as torcidas, antes rivais que trocavam provocações saudáveis, a se tornarem inimigas mortais, que se atacam a cada partida e duelam por toda a cidade. Afinal, quem em sã consciência quer levar desaforo pra casa?

Ah, que falta me faz aquelas reportagens como a protagonizada por Gaúcho e Renato Gaúcho, adversários nas finais do Brasileirão, que fizeram um churrasco JUNTOS e debocharam um do outro, na frente das câmeras.

E quanta saudade eu sinto de ver os jogadores que prometiam comemorações diferentes para seus gols, como o Viola, brincando com a torcida e provocando os adversários.

Era isso que construia a mitologia do futebol. Era isso que fazia com que o esporte tivesse histórias incríveis para contar. Era isso que dava sabor e prazer aos papos do nosso dia-a-dia.

Ao criar essa atmosfera de infalibilidade e seriedade absoluta, jogadores, treinadores, juízes, bandeirinhas e até a torcida acabam por desprezar ou ignorar situações que transformaram o futebol na maior paixão do brasileiro, num verdadeiro espetáculo.



 Lembro-me de ouvir meu avô citando Garrincha, Preguinho, Ademir da Guia, Nilton Santos. E as histórias eram sempre recheadas da malandragem saudável, do futebol divertido, da provocação ingênua. Garrincha driblava o mesmo marcador por 3 ou 4 vezes no mesmo lance, pra desmoralizá-lo. Nilton Santos fez um pênalti e deu uma passo pra frente, confundindo o juiz, que marcou falta. E por aí vai.

Agora tente imaginar os comentaristas e dirigentes de hoje em dia, diante de lances como esses? Teria tapetão, Arnaldos e Wrights fazendo críticas ao juiz e mais um bando de chatices. Por isso eu faço uma ode aos malandros, marrentos, debochados e provocadores. Sem eles, o futebol-arte vai acabar.

VAMO QUE VAMO, MENGÃO!

Gil

2 comentários:

Anninha disse...

A gente sabe que os jogadores adoram e devem rir bastante quando os rivais perdem, mas em nome de uma política de boa vizinhança, ficam calados. Só que com isso, as pessoas defendem a hipocrisia.
As coisas não precisam ser levadas tão a ferro e fogo assim. Deixa o cara zoar.
Quando o Thiago Neves ficou dançando o créu pra torcida do Flamengo (quem foi o campeão carioca no final das contas mesmo? hehe) aposto que os tricolores devem ter adorado a atitude dele. Se o Léo Moura não liga de botar a cara e zoar mesmo o problema é dele, ninguém tem nada a ver com isso.
SRN

Bruh disse...

eu não fui curti muito a atitude do leo moura não, estamos numa semana muito complicada, cheia de ansiedade, polêmicas, expeculações e disse-me-disse danando.
como vc mesmo disse, foi mais um prato cheio.
acho que o silêncio ás vezes é a melhor resposta e se for pra zuar, que zoe na segunda que tem tudo garantido.

bjo