2010 UM ANO PARA SER LEMBRADO

Ouvi e li de muita gente, depois da derrota de 4X1 pro Patético Mineiro, que o Flamengo precisa esquecer o ano de 2010. Mas discordo VEEMENTEMENTE. Este é um daqueles anos que devemos guardar bem vivos em nossa memória, pois trata-se de um exemplo. Um exemplo de tudo o que NÃO devemos fazer no comando de um time, um clube ou uma empresa. Um exemplo real e latente do quão mal o amadorismo pode trazer para uma gestão.

Alguns podem até dizer: "Mas o time vem perdendo dentro de campo e a presidente não tem nada com isso". Ela mesma disse algo parecido. Analisando friamente, sim, isto é verdade. Mas a quem atribuir, então, a culpa por deixar que os contratos dos atletas chegassem ao fim, sem um plano de renovação ou uma segunda opção? A quem atribuir a exposição que o clube tem sofrido neste ano? A quem atribuir a culpa pelos desmandos do presidente do conselho fiscal, que levaram Zico a adiar sua tentativa de consertar o futebol do clube? A quem atribuir a demora absurda para corrigir os erros que vinhamos tendo no comando técnico da equipe? A quem atribuir a culpa pela demora na execução de promessas antigas, como o museu e o CT, lançados agora, a toque de caixa, e sem qualquer garantia para os participantes?

Que fique claro: não sou contrário à "Campanha do Tijolinho". Mas acho, sim, que ela poderá ser um fracasso retumbante e, talvez, a derrocada da gestão de Patrícia Amorim. A explição? Falta profissionalismo, falta transparência e falta compromisso com o torcedor, tudo o que Patrícia prometeu em sua campanha para a presidência. Uma lástima.

Quem compra um tijolinho desses, ao preço total (bem salgado) de R$ 252,00, não quer só ajudar o Flamengo. Essa não é uma compra racional. Esse torcedor quer FAZER PARTE do crescimento do clube, quer saber que ele PARTICIPOU, que CONTRIBUIU, que seu nome está marcado na HISTÓRIA. Portanto, estamos lidando com sentimentos muito maiores do que os investidos numa compra racional, como um rádio, um ar-condicionado. Mas o clube não parece dar a atenção devida a isso.

Por enquanto, Patrícia e seus asseclas apenas se beneficiam do dinheiro e deste sopro de esperança que contenta os torcedores. Porque é isso que o CT representa para eles: a esperança de um futuro melhor e mais vitorioso para o nosso clube. Mas, como a língua portuguesa é sábia e não nos deixa esconder, a palavra esperança vem de esperar, do latim SPERARE. O que deixa claro o que CADA UMA DESTAS PESSOAS está fazendo agora: esperando que a sua dedicação, a sua ajuda, o seu dinheiro, seja bem utilizado pelo clube.

É aí que residem meus maiores medos. Quando chega a hora dos DEVERES do clube para com o torcedor. Estes, por enquanto (aliás, historicamente), ficam SÓ na promessa: a obra ainda não começou, as câmeras que acompanharão a obra "ao vivo" não está no ar e nem mesmo uma estimativa oficial do total da obra foi divulgada até agora (a imprensa fala em R$ 25 milhões).

Na verdade, aprofundando ainda mais meu questionamento, confesso que NUNCA observei uma ação do marketing do Flamengo que, de fato, posicionasse o clube de maneira transparente e comprometida. E não me refiro só a gestão "Paty". Lembram-se da promoção para construção do CT que vendia uma camisa e uma pulseira? Pois é. Lembram que ela também bombou nos primeiros dias? Pois é. Cadê aquela grana? Ela foi aplicada aonde? E sei foi no CT, cadê a comunicação e os dados para mostrar aos participantes que o dinheiro foi bem utilizado? Ninguém sabe, ninguém viu.

Mas a Patrícia chegou à presidência do Mais Querido do Brasil usando termos que nenhum outro presidente havia usado. Falou de profissionalizar o clube, fortalecer o vínculo com a torcida e tornar o Fla mais sério e confiável. Fez tudo ao contrário.Os patrocinadores fogem do clube e rompem contratos, o programa de sócio-torcedor é uma vergonha, as embaixadas foram abandonadas e o GEASE-FLA, que apoiava os torcedores contra a máfia dos ingressos, descontinuado. Pra piorar, 99,9% dos esforços para captação de novos sócios é feito por torcedores, que, engajados e preocupados com o futuro do Flamengo, tomam uma posição que deveria partir prioritariamente da diretoria.

De toda forma, para que o clube capte novos associados, é fundamental oferecer algo de bom para eles. E esse "algo de bom" precisa ser bem estudado, visto que, ter uma sede boa (a Gávea já foi um excelente clube, há anos atrás) não atrairá a todos, especialmente porque sua localização atende APENAS a uma minoria de pessoas da Zona Sul e Barra. E onde ficam os rubro-negros da Zona Oeste, Centro, Baixadas e do resto do país? O que há de bom pra eles? Eu respondo: NADA.

Tá na hora do Flamengo entender que, por mais que haja o amor do torcedor pelas cores rubro-negras, é fundamental que eles se sintam amados também pelo clube. Afinal, NENHUM sentimento dura se não for correspondido. Como diria o Capt. Fábio, no excelente Tropa de Elite: "Para você rir, você tem que me fazer rir". E ESTE Flamengo que está ai, não tem me feito rir muito ultimamente.

Gil

OBS: Para complementar o raciocínio, indico a leitura de outros textos do SobreFlamengo e do Polaroids Rubro-Negros.